Julio Bitencourt - Web Developer

Como lidar com o excesso de informação?

March 10, 2020

Artigo publicado originalmente no medium

Em 1996 eu estava na oitava série e durante a aula de matemática o professor se dirigiu a classe e fez a seguinte pergunta:

na opinião de vocês, qual é o bem mais valioso do mundo hoje?

Foram várias respostas — Petróleo, ouro, água, dinheiro, etc. — e eu nem lembro qual foi a minha.

Enquanto os alunos respondiam, o professor começou a escrever em letras garrafais no quadro: INFORMAÇÃO.

Segundo ele, este era o bem mais valioso do mundo em 1996.

Alguns alunos ficaram espantados, outros ficaram indiferentes. Eu lembro de ter estranhado bastante o fato de um bem abstrato como a informação ser considerado o mais valioso do mundo pelo meu professor.

Pensei nos jornais, revistas, TV e rádio. E mesmo vendo que as empresas de comunicação tinham um valor enorme, achar que a informação era o bem mais valioso do mundo não fazia muito sentido.

Até que…

A rede mundial de computadores. Ou internet, para os íntimos

Em 1996, cerca de 1 milhão de brasileiros (40 milhões no mundo) tinham acesso a internet. E eu não era um deles.

Naquele ano eu tive o primeiro contato com um PC, e dois anos depois o primeiro contato com a internet.

Uma das formas de apresentação desta nova tecnologia hoje seria mais do que clichê, “permitiria o acesso aos acervos de muitas bibliotecas do mundo todo diretamente do meu quarto”.

Na hora eu lembrei daquela aula em 1996, e que eu poderia ficar um pouco mais rico agora que quantidades consideráveis de informação estariam ao alcance de alguns cliques.

É muito difícil se afastar da avalanche de conteúdo que cai diariamente sobre nossas cabeças, já que este hábito é cultural e visto de forma positiva pela sociedade.

A realidade é que informação em quantidades que não conseguimos processar — ou ao menos entender — é só ruído.

Além disso, excesso de informação, trabalho multitarefa, stress e fadiga mental afetam diretamente o hippocampus e nossa capacidade de tomar decisões e fazer inferências.

Esta avalanche de informação digital chegou rápido, ainda em 2001, o excesso de informação já era apontado como o mal do século.

Ainda vale destacar que no início dos anos 2000 não tínhamos a velocidade de conexão que temos hoje, as redes sociais e principalmente os smartphones.

*O mal-estar de nosso tempo é a inadequação, o sentimento opressivo de que as outras pessoas estão fazendo as coisas certas, lendo os livros que contam e usando os computadores e programas mais modernos enquanto nós estamos ficando para trás na carreira ou nos relacionamentos Wayne Luke*

Já que o acesso à informação deixou de ser um problema, o que temos que resolver hoje é que informação se transformou em uma commodity.

Em que devemos focar então? É claro que o acesso à todo tipo de fonte de informações sobre um determinado assunto pode ser extremamente útil em nossa vida cotidiana.

Mas, o consumo de informação em excesso pode viciar e ter efeitos cognitivos prejudiciais.

Não fique de fora! Entendendo o FOMO

Curiosamente, no mesmo ano em que meu professor abria os olhos da tchurma para o valor da informação, o estrategista de marketing Dr. Dan Herman, começou a estudar um fenômeno inusitado.

Você já reparou que alguns festivais de música tem ingressos esgotados mesmo antes do line up ser divulgado?

Este não é um comportamento apenas da cultura pop. Até nos eventos de tecnologia mais hipster isto pode acontecer.

É o famoso FOMO, ou Fear Of Missing Out.

No ano 2000, Herman publicou um paper sobre o tema, mas o termo FOMO ficou popular mesmo a partir de 2004 quando foi publicado em uma revista na escola de negócios de Harvard pelo autor Patrick J. McGinnis.

O medo de perder, ou FOMO, é “uma percepção generalizada de que os outros possam estar tendo experiências gratificantes das quais se está ausente”. Essa ansiedade social é caracterizada pelo “desejo de permanecer continuamente conectado com o que os outros estão fazendo” fonte

Fazendo um paralelo ao consumo de informação, podemos entender como o FOMO pode ser nocivo e acabar nos colocando num looping — ou scroll — infinito em feeds e mais feeds.

Uma dica para combater o FOMO: termine de ler este texto antes de clicar nos links do mesmo.

Tome cuidado com os gatilhos mentais

Você já se pegou em situações onde um artigo pareceu familiar mas mesmo assim você abriu uma nova aba e o deixou lá para ler depois?

Somos atraídos por informação nova, fresquinha, mesmo sendo sobre assuntos que já estamos familiarizados. E a internet é cheia de nova informação, o tempo todo, 24×7.

O ícone de notificações das redes sociais atrai o ponteiro do seu mouse com velocidade e precisão de raio laser, como se tivesse vida própria. E na verdade é quase isso.

Empresas de mídia e que desenvolvem aplicativos gastam muito tempo e dinheiro estudando o comportamento humano e até psicólogos estão envolvidos nesses estudos.

Somos treinados para ficar constantemente ativos nos aplicativos e redes sociais, pois o engajamento nesses aplicativos é vendido pelas empresas aos anunciantes ou outros parceiros na forma de dados extremamente segmentados sobre suas preferências.

É importante destacar que esse comportamento é natural do ser humano, e você provavelmente vai perder caso tente ignorar a bolinha vermelha no canto direito da rede social azul.

Então o que devemos fazer para nos livrarmos do excesso de informação?

Nada. Não podemos nos livrar e algo que não está no nosso controle.

A primeira coisa que você precisa fazer é definir objetivos. Você precisa de metas, propósitos, gols…

A partir daí, a informação que você consumir deve ser voltada aos objetivos definidos, mesmo que seu objetivo seja apenas se divertir ou se distrair.

Lembra que eu citei que informação demais é apenas ruído? Então, devemos separar o joio do trigo, o sinal do ruído.

Dê preferência aos artigos com opiniões e estudos atemporais. Deixe os tutoriais, how-tos e vídeo-aulas para as horas em que você vai realmente por a mão na massa.

Organizando suas leituras

Eu utilizo o pocket para duas tarefas específicas: a) armazenar artigos que embora sejam interessantes, eu não tenho tempo de ler naquele momento ou estão fora do meu foco atual ou b) artigos bons em sites com design ruim ou cheios de anúncios. Esta é inusitada, mas ao colocar no pocket, o app extrai o texto do artigo e apresenta em uma interface muito bonita e limpa; ótima para leitura.

Redes sociais

Como dito acima, redes sociais são desenhadas para sugar sua atenção e seu tempo. E esta é a maior armadilha.

Controle o tempo que você gasta nas redes sociais com aplicativos como o Rescue Me ou extensões de navegador como a Kill News Feed e a StayFocusd

E-mail

Enquanto o tempo passa, vamos nos cadastrando em dezenas de sites, baixamos conteúdo, compramos on line, e conhecemos novas pessoas.

Sua caixa de entrada pode virar um caos, e para se livrar desse caos você deve usar a tecnologia ao seu favor.

Dica: você pode utilizar o serviço unroll.me para cancelar o cadastro em newsletters indesejadas.

Limpeza periódica

De tempos em tempos, faça uma revisão em suas fontes de informação, sejam elas blogs, canais, perfis em redes sociais ou assinaturas de e-email.

O conteúdo ainda faz sentido para você? Quantos posts de fulano eu parei para ler no último semestre?

Uma limpeza periódica te dará clareza mental sobre suas fontes de informação.

Conclusão: relaxe!

Eu percebi depois de vários anos que não adianta tentar segurar uma cachoeira com as mãos, nem mesmo com um guarda chuva.

As vezes é melhor fechar a janela e se permitir deixar passar. Como em uma relaxante viagem de trem.